Histórias sem palavras 

 

Edição: Outubro 2010

Páginas:80

Execução técnica: Publidisa

 

Sinopse: Ele e Ela são personagens vibrantes em busca de si mesmas, espelhando experiências sensíveis do Homem contemporâneo.

          Eu, a personagem biodanzante, reflete conhecimentos sobre a teoria de Biodanza e os seus fundamentos em relação às ciências da vida, explorando momentos reveladores deste método de vivência subjetiva.

 

Gostaria de ler? 

Este é um livro cujas palavras traduzem bem a grandeza e a potência das vivências em Biodanza...sem palavras. 
A expressão ampliada da vida em nós.

Que bem escreves, Ana  <3

Abraço bom 

Extratos da obra:

Mas que danças são essas? Ah! que difícil é transformar em palavras a força e a delicadeza de um movimento profundo, que surge das entranhas, cheio de vida, de ritmo biológico porque é o coração que bate, é o ritmo da respiração; são movimentos singelos de intimidade, em que a dança não é para ninguém! Mas eu danço e o outro dança e neste movimento celebro a sua presença, ele celebra a minha e surge a vinculação…
Ainda ressoou a voz do facilitador «… é movimento pleno de sentido, profundamente conectado com as matrizes de gestos eternos» e recordo Fernando Pessoa: «Grande é a poesia, a bondade e as danças»; inspiro-me com as palavras de Rolando Toro: «Tua dança é a revelação voluptuosa / De teu mais íntimo mistério / Tua versão pessoal da origem do mundo», por isso como Nietzsche apetece dizer «Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar»!

De facto, há a parte em permanente transformação, dada a constante relação com o outro e a inter-relação com o meio, porque a identidade é permeável à presença do outro. É por isso que a relação a dois não é fácil, pois o encontro de duas identidades é a união para uma fusão cuja identidade, por sua vez, é diferente da de cada um. É o que, por exemplo, experimentamos nalgumas danças, a pares, de eutonia: o movimento que surge não é o movimento de cada um, nem a soma dos movimentos, é outra coisa!
  Humm…, e como pode isso ser difícil na vida, do encontro surgir algo que seja diferente de cada um, se não se souber quem se é! Penso que nessa fusão me perdi… Começo a ter outra visão de mim, relativamente às minhas dificuldades nas danças com o outro, seja homem, seja mulher. O que surge é: um agora comando eu e um agora comandas tu, e eu sempre a controlar a passagem da liderança. Tenho um longo caminho à minha frente… Ah, mas é tão prazeroso!

Na verdade, a expressão das emoções nas sessões é tão intensa! Mas a Vivência é muito mais que a emoção: há uma proposta que induz a uma resposta motora; há elementos que funcionam ao nível da consciência porque há um porquê claro, uma direcção, uma potencialidade nesse movimento; há uma música que lhe dá coerência; emerge uma auto-autorização ao nível da consciência e ao nível das possibilidades internas que não dependem da vontade de cada um; recriam-se padrões novos de funcionamento celular, uma harmonia intra-orgânica e um conjunto de sensações viscerais cenestésicas que provocam a vivência integradora!

Registei ainda a noção de que as emoções, ao estarem intimamente vinculadas aos impulsos de origem instintiva e ao funcionamento dos órgãos, como já referi, e ao possuírem expressão e padrões motores diferenciados, (dimensões neurovegetativas, endócrinas e imunológicas), têm efeitos sobre a saúde; e também registei que as emoções reprimidas, de forma crónica, causam efeitos muito nefastos. Basta, de facto, pensar que das cerca de duas mil doenças existentes, mil e quinhentas resultam de padrões emocionais! As células são bombardeadas por esses químicos que as emoções reprimidas encerram e o sistema neurovegetativo e as defesas imunológicas ressentem-se. A forma de manter o equilíbrio interno e estabelecer uma relação coerente com o mundo externo consiste em reaprender a exprimir as próprias emoções, por isso a Biodanza é o caminho da emoção manifestada à revitalização, à reabilitação existencial!

E foi com a visão da tragicidade da existência, cuja condição não é efectivamente solucionável, porque viver implica morrer, que se vivenciou este encontro, e os outros subsequentes, também eles cheios de poesia. Respirámos a aceitação de que não há nada para explicar, senão para viver; e que «a visão trágica da existência encontra na música um género de arte que corresponde ao seu objectivo principal: celebrar a vida, mesmo na dor». Falou-se, pela primeira vez, de Orfeu, o músico mais famoso de todos os tempos, que, com a sua lira mágica, encantava árvores e rios, assim como os animais selvagens: até as pedras se juntavam à sua volta e dançavam! Poderosas artes primitivas, a música e a dança, cujas histórias se confundem, como se fossem apenas uma! O mistério do poder musical e o encantamento da dança, conjuntamente, fomentaram, ao som do mito ancestral, a transmutação da expressão...

Foi das minhas vivências que emergiu isto de que vos falo, porque nelas vivo verdades evidentes.
Foi na Biodanza que descobri, sim!, a possibilidade de reaprender, de me renovar, de me recriar, com a responsabilidade e a liberdade de fazer da minha existência um poema, uma melodia, sim!, quem sabe?, uma obra única, uma obra de arte… porque o que nós somos é o presente que a vida nos dá; no que nos tornamos é o presente que nós damos à Vida!